Pelos caminhos de São Paulo
0 Comentários
E o grande dia chegou! A nossa expectativa era grande e imbuídos deste espírito peregrino embarcámos rumo à Turquia (pedra, turquesa) para conhecermos parte dos caminhos percorridos por Paulo nas suas viagens missionárias.
Um passeio peregrino/turístico que nos encheu o coração. Realço as grandes distâncias entre as comunidades que ele criou. Não são dezenas de quilómetros, não! são centenas! Impressionante! Daí o cansaço, o pouco dormir. Chegar tarde e levantar cedo. Mas valeu a pena. Muito gratificante por tudo o que vimos e sentimos.
Istambul, que começou por ser Bizâncio, depois Constantinopla. A cidade dos dois continentes, europeu e asiático. Enorme. Muita gente. Cedinho, fomos visitar a Mesquita Azul, o hipódromo romano, a Basílica de Santa Sofia, a Igreja de S. Salvador in Chora e, à tarde o Mercado Egípcio, onde aproveitámos para fazer compra de especiarias.
Em Antioquia, visitámos a gruta de S. Pedro e o Museu Arqueológico. A primeira tem um significado muito especial para nós cristãos: foi daqui que começaram as importantes viagens de São Paulo. Neste lugar, os cristãos sentiram o chamamento a “ir mais longe” e não resistiram nem se fecharam a esse apelo!
Seguimos para Tarso. Depois da visita à casa e ao poço de S. Paulo participámos na Eucaristia, que tínhamos diariamente, mas esta teve um sabor doce e amargo: doce, porque foi na cidade em que S. Paulo nasceu; amargo, porque depois da Santa Missa uma das Irmãs que ali está agradeceu-nos a visita e o puderem ter participado na mesma. Naquele local estão três irmãs, italianas, já de avançada idade. São as únicas cristãs naquela terra. Não podem manifestar a sua religião, nem usar os seus hábitos de freiras, nem, pasme-se! celebrar qualquer cerimónia religiosa naquela Igreja. Para nós o pudermos fazer foi precisa uma autorização… e continuaram dizendo, ainda com um leve sorriso e os olhos nos céus. “ Rezem por nós porque quando Deus nos chamar tudo acaba. Estamos velhas. Rezem por nós. Rezem por esta Igreja para que Deus não permita que esta pequenina comunidade acabe. Somos três. Estamos velhas!” Senti que lágrimas rolaram em muitos de nós. No final levantaram o altar, pegaram no cálice, nos missais, nas velas, em tudo e levaram para a sua casa. Nada podem deixar que dê sinal que por ali passaram ou estão cristãos… “Obrigado por pudermos participar na vossa Missa…” Doeu!
Seguimos para Capadócia. Maravilha da natureza: Um grande convento a céu aberto, que albergou tantos monjes, mas que atualmente se limita a ser visto como um museu, onde nem sequer é autorizada a celebração da eucaristia. Visitámos ainda o Vale de Goreme e a cidade subterrânea.
Pamukkele: Aqui encontrámos a cidade de Hierápolis, mencionada por São Paulo numa das suas cartas, por aí existir então uma comunidade cristã, e que hoje está em ruínas, e o Castelo de Algodão, famoso pelas piscinas termais de origem calcária e onde, com o passar dos séculos, se formaram bacias de água que descem em cascata. Muito bonito e também com belíssimas paisagens.
Éfeso! Pequena cidade à beira mar, onde no século I chegaram os apóstolos Paulo e João Evangelista. Também aqui, no final da celebração eucarística fomos confrontados com a informação de que nesta cidade não há cristãos. Os que existem, à volta de 30, são estrangeiros. Para participarem na Missa têm de se deslocar 60 quilómetros, 30 para cada lado… e nós queixamo-nos por tudo e por nada, porque este Padre é assim e outro é assado, porque este faz e outro não, porque a Igreja isto e porque a Igreja aquilo… queixamo-nos de “barriga cheia”.
Peço ao Deus, que amo, nos dê a todos, e sempre, um sacerdote que nos ajude, aconselhe e, em nome de Deus, nos perdoe os nossos erros.
Agradeço a Deus por me ter dado a oportunidade de conhecer esta realidade e mais estes caminhos calcorreados pelos seus Apóstolos, que deram o seu sangue, que baptizaram aos milhares, que criaram comunidades vivas, activas, e onde hoje os cristãos se resumem a uns meros um por cento. Que o Espírito Santo actue e que Deus tenha misericórdia de todos nós.
Carlos Jorge Freitas